quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Doping: não há certo ou errado

Mauro Ribeiro

O passaporte biológico foi colocado em xeque e mais uma polêmica promete ganhar força na mídia; devíamos parar com hipocrisia e profissionalizar ainda mais o processo de dopagem

No último mês de setembro, duas bombas estouraram no ciclismo europeu e, mais uma vez, reviveram a polêmica sobre o doping. Alberto Contador, campeão do Tour de France, e Ezequiel Mosquera, vice-campeão da Vuelta a España, testaram positivo no antidoping.

Não bastassem a pressão e a polêmica em torno do caso, o ex-ciclista austríaco Bernhard Kohl – pego em 2008 no doping – ainda colocou a “boca na botija” e afirmou que nenhum ciclista tem condições de vencer o Tour sem fazer uso de substâncias proibidas.

Vamos por partes. O assunto é complexo, mas temos de aceitar um fato: os melhores ciclistas do momento são aqueles que alinham para a largada do Tour de France. Se eles utilizarão algum processo irregular para aumentar sua performance, e alguns o fazem, isso é algo muito pessoal. Esse processo – mesmo que dentro de uma equipe – é algo muito individualizado.

Em contrapartida, se fizessem uma avaliação genética e metabólica dos ciclistas – em condições iguais –, o resultado seria compatível com a classificação, seja no Tour, no Giro d´Italia ou na Vuelta a España. Com isso, quero dizer que, independentemente daquilo que esteja envolvido, o ciclista deve ser respeitado pelo seu histórico e capacidade.

Contador passou por uma série de exames dentro da competição e acabou flagrado em apenas um deles, sendo que a substância não apresentava vestígios no exame do atleta dias depois. O espanhol passou por inúmeros testes ao longo da temporada, tem em seu currículo cinco títulos de grandes voltas. Isso não foi obra do acaso. No entanto, se voltarmos ao começo da conversa: quem foi Kohl? Um ciclista nada excepcional, que destoou da maioria no Tour 2008, esse sim gera suspeitas.

O antidoping foi criado com o objetivo de colaborar e inibir a utilização de substâncias proibidas. O ciclismo foi o primeiro esporte que abriu as portas e fez um grande investimento dentro desse processo. Hoje, o atletismo também parece compreender a necessidade e segue os passos na luta pelo “justo e limpo”, mas cairemos na complexidade novamente.

Veja o quão desgastante é uma temporada. Os atletas recorrem a um processo vitamínico, que serve como regenerativo muscular ou soro em casos de desidratação. E por conta disso podem ser considerados dopados? Deve haver um limite para aquilo que é ou não doping. Muitos fazem disso algo sensacionalista – um jogo de polícia e ladrão. O que todos querem é reduzir e, se possível, banalizar o doping.

Recentemente, Di Luca e Pelizotti acabaram liberados pelo CONI (Comitê Olímpico Nacional Italiano), sem cumprir os meses de suspensão definidos pela UCI (União Ciclística Internacional). O passaporte biológico foi colocado em xeque e mais uma polêmica promete ganhar força na mídia. Devíamos parar com hipocrisia e profissionalizar ainda mais o processo de dopagem. Caso flagrado, que seja banido do esporte. Não há santo, mas também não há bandido.

Alguns acabam julgados injustamente e veem a vida tomar um rumo diferente em meio ao álcool, drogas e, em determinados casos, até mesmo suicídio. O ciclismo não fala o que é certo ou errado. Não existe uma influência direta. Vários disseram que usaram. São safras de situações que levam alguns ciclistas a seguir uma determinada linha de trabalho, seja para o bem ou para o mal.

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